"Freqüentemente eu penso que
nossas sociedades estarão em pouco tempo (ou elas já
estão divididas) em duas classes de cidadãos: aqueles
que apenas assistem televisão, que receberão imagens
pré-fabricadas e portanto definições do mundo também
pré-fabricadas, sem nenhum poder para escolher
criticamente o tipo de informação que eles recebem, e
aqueles que conhecem como utilizar o computador, que
estarão habilitados para selecionar e para elaborar
informação."(UmbertoEco, 1996)
No meu artigo anterior na revista critiquei um tipo de
visão corrente que imagina que a simples
disponibilização e acesso a informação é um processo
educativo, no sentido restrito do termo.
Neste momento comento alguns dados sobre a
transferência de informação pelo principal servidor
Web da Unicamp, pertencente ao Centro de Computação da
Universidade.
Os dados (estou me referindo ao dia 21-9-98) mostram que ocorreram
125.702 acessos à paginas do site da Unicamp, que
transferiram 20.217.798 kilobytes de informação.
Neste dia cerca de 85% destes acessos eram
requisições internas ao campus, enquanto a outra parte
representa ligações dos mais variados e distantes
lugares. Estes últimas significam aproximadamente 18 mil
acessos.
Fico pensando se na época pré-Internet a
Universidade enviava diariamente para o público externo
esta quantidade de documentos. Isso precisa ser
investigado, mas o bom senso indica que a transferência
de informação devia ser ínfima em relação a atual.
Há muitas perguntas: Quantos seriam estes documentos
anteriormente? Das páginas HTML atuais, quantas são
documentos científicos e quantas são de divulgação de
conhecimento? Como se dava a divulgação de informação
pela Universidade ao público externo, ou seja, a
atividade de extensão?. Era através de palestras em
outras instituições, ou seja, de forma oral? A
transferência de documentos via rede é uma forma de
extensão?
Enquanto estas questões não são rigorosamente
respondidas, é natural considerar a magnitude dos dados
que acabamos de ver como a corroboração da afirmação
citada de Umberto Eco.
Dessa forma, se faz urgente um processo de educação
tecnológica de professores e outros agentes educativos
que os habilite a utilizar as ferramentas que de fato
são as usuais no nossos dias. Sem este lado do processo,
a simples instalação de equipamentos e infra-estrutura
pode se tornar um fiasco. O perigo de mais um
analfabetismo – o tecnológico – tende a ser
uma certeza se considerarmos a prioridade que se dá à
verba destinada a educação no país. Será que estamos
condenados a aumentar a distância entre as nossas
classes sociais: nós trancafiados em condomínios
informatizados e uma maioria excluída que dominará os
espaços públicos através da violência.
PS: No magnífico texto de Umberto Eco o leitor
encontra uma argumentação interessantíssima sobre o
papel reservado a imprensa e ao livro. Vale a pena
conferir.
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