terça-feira, 13 de março de 2012

A magnitude da informação digital



Marcelo Franco
        "Freqüentemente eu penso que nossas sociedades estarão em pouco tempo (ou elas já estão divididas) em duas classes de cidadãos: aqueles que apenas assistem televisão, que receberão imagens pré-fabricadas e portanto definições do mundo também pré-fabricadas, sem nenhum poder para escolher criticamente o tipo de informação que eles recebem, e aqueles que conhecem como utilizar o computador, que estarão habilitados para selecionar e para elaborar informação."(UmbertoEco, 1996)
       No meu artigo anterior na revista critiquei um tipo de visão corrente que imagina que a simples disponibilização e acesso a informação é um processo educativo, no sentido restrito do termo.
        Neste momento comento alguns dados sobre a transferência de informação pelo principal servidor Web da Unicamp, pertencente ao Centro de Computação da Universidade.
         Os dados (estou me referindo ao dia 21-9-98) mostram que ocorreram 125.702 acessos à paginas do site da Unicamp, que transferiram 20.217.798 kilobytes de informação.
          Neste dia cerca de 85% destes acessos eram requisições internas ao campus, enquanto a outra parte representa ligações dos mais variados e distantes lugares. Estes últimas significam aproximadamente 18 mil acessos.
         Fico pensando se na época pré-Internet a Universidade enviava diariamente para o público externo esta quantidade de documentos. Isso precisa ser investigado, mas o bom senso indica que a transferência de informação devia ser ínfima em relação a atual.
         Há muitas perguntas: Quantos seriam estes documentos anteriormente? Das páginas HTML atuais, quantas são documentos científicos e quantas são de divulgação de conhecimento? Como se dava a divulgação de informação pela Universidade ao público externo, ou seja, a atividade de extensão?. Era através de palestras em outras instituições, ou seja, de forma oral? A transferência de documentos via rede é uma forma de extensão?
         Enquanto estas questões não são rigorosamente respondidas, é natural considerar a magnitude dos dados que acabamos de ver como a corroboração da afirmação citada de Umberto Eco.
         Dessa forma, se faz urgente um processo de educação tecnológica de professores e outros agentes educativos que os habilite a utilizar as ferramentas que de fato são as usuais no nossos dias. Sem este lado do processo, a simples instalação de equipamentos e infra-estrutura pode se tornar um fiasco. O perigo de mais um analfabetismo – o tecnológico – tende a ser uma certeza se considerarmos a prioridade que se dá à verba destinada a educação no país. Será que estamos condenados a aumentar a distância entre as nossas classes sociais: nós trancafiados em condomínios informatizados e uma maioria excluída que dominará os espaços públicos através da violência.
       PS: No magnífico texto de Umberto Eco o leitor encontra uma argumentação interessantíssima sobre o papel reservado a imprensa e ao livro. Vale a pena conferir.

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