O
excessivo convencionalismo do ensino tradicional contrasta aparentemente com o
ávido interesse, público e privado, em transformar, massificar, encapsular e
virtualizar a educação.Devemos usar o que a internet oferece de novo e
positivo: a anonimidade – para jogos de aprendizado,
por exemplo (BLIKSTEIN: 2001) –, a eliminação de distâncias entre pessoas que
têm (ou querem ter) um vínculo de relacionamento significativo, a possibilidade
de criação e expressão pessoal, a descentralização da produção de conhecimento
e de sua documentação, a ausência de formatos proprietários e as possibilidades
de construção coletiva de projetos reais.
Outros
elementos, que não lhe são tão particulares, dizem mais respeito à internet
como mídia de transmissão de informações do que como matéria-prima de
construção: a possibilidade de milhões de pessoas terem acesso a um página
web, o suposto baixo custo, a falta de privacidade, o rastreamento das atividades
dos usuários, o enorme tempo que gastamos teclando em vez de falar, a
padronização, muitos dos softwares de inteligência artifcial (agentes) que ao
tentar ser inteligentes, mais aborrecem e limitam do que ajudam.
A internet
é mais valiosa para a educação como matéria-prima de construção do que como
mídia. Assim, em vez de entrar em um ambiente pré-construído, que os próprios
alunos construam seus ambientes. Em vez de confiar a um grupo centralizado a
produção de material didático, que os próprios alunos, de forma
descentralizada, produzam documentação para ajudar outros alunos. Em vez de
criar proibições, estimular as possibilidades e a responsabilidade cidadã de
cada aprendiz. Em vez de testes de múltipla escolha, propor formas alternativas
de avaliação qualitativa de projetos, e não de pedaços desconexos de
informação. No lugar de massifcar o que já existe, inaugurar um novo mundo de
aprendizado onde a personalização não seja um mero narcisismo consumista, mas
possibilidade de expressão e colaboração.
Em vez da
preponderância exclusiva da visão negocial, a recuperação e valorização de sua
função pública, inclusiva e de resistência. Apesar da implosão da bolha da
Internet ter evidenciado os exageros daquela época, nossa empolgação naqueles
anos dourados tem um sentido positivo. Quantos de nós não tivemos uma grande
idéia para um site? Quantos não passaram noites em claro, imaginando um grande
projeto? Isso mostra que, quando percebemos à luz da oportunidade, nosso
espírito criativo e empreendedor renasce. É exatamente isso que devemos
cultivar na educação, seja online ou presencial: esse brilho nos olhos, que se
vê em crianças e adultos quando vislumbram a possibilidade de atuar no mundo,
empreender projetos, melhorar a vida das pessoas, imaginar o que não existe,
subverter a ordem, construir, destruir e reconstruir.
Que cantem as sereias: a única
educação que faz sentido é a que nos faz mudar o mundo.
Paulo Blikstein e Marcelo Knörich Zuffo
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